terça-feira, 18 de maio de 2010

Agroecologia e Extensão Rural: conexões para o desenvolvimento do tecido social formado pela Agricultura Familiar, com ênfase nas dimensões sociais

A Agroecologia, definida como um campo de estudos que pretende o manejo ecológico dos recursos naturais, para – através de uma ação social coletiva de caráter educativo complexo, democrático e participativo, de um enfoque holístico e de uma estratégia sistêmica – reconduzir o curso alterado da coevolução social e ecológica, mediante um controle das forças produtivas que estanque seletivamente as formas degradantes e expoliadoras da natureza e da sociedade. (Sevilla Guzmán y González de Molina, 1996)

O enfoque sócio-político da definição nos possibilita compreender as conexões existentes entre Agroecologia, Agricultura Familiar e Extensão Rural, envolvendo as relações sociais estabelecidas a partir das unidades familiares que impulsionam as unidades de produção, dentro de um contexto coletivo que considera a co-participação e co-gestão dos diferentes atores envolvidos nos processos de desenvolvimento local sustentável.

Os desafios da transição agroecológica que privilegiam a agricultura familiar perpassam pelas especificidades locais que envolvem as peculiaridades das diferentes populações do campo, atrelados ao modo de produzir dessas populações que habitam distintos agroecosistemas, envolvendo saberes e as mais diversas formas de organização social, conservação e preservação dos recursos naturais, o auto-abastecimento e a reprodução social das famílias.

A Agroecologia, enquanto ciência integradora, faz uso de metodologias educativas e participativas, com ênfase nas multidimensões da sustentabilidade, na incessante busca de transformar a realidade dos povos do campo, para uma condição de igualdade e justiça social, promovendo a melhoria da qualidade de vida dessa gente.

Cabe a extensão rural, de forma democrática e de acordo com os objetivos, diretrizes e princípios preconizados pela Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (PNATER), que tem seu foco nos princípios da Agroecologia, facilitar processos demandados por indivíduos livres, conscientes e capazes de protagonizar sua própria história, com vistas no pleno exercício da cidadania, a partir de uma ética comprometida com a sustentabilidade da vida no planeta.

A extensão rural agroecológica, para atender aos anseios das diferentes populações que fazem a Agricultura Familiar brasileira, necessita capacitar seus profissionais para atuarem como “operadores” de complexidade, na acepção “moriniana” do pensamento complexo, a partir de um processo comunicacional dialógico e tecendo a noção de totalidade, que envolve o ser humano enquanto ser biológico e produtor de cultura.

Portanto, não podemos fragmentar esse tecido social que envolve a relação entre homem, natureza, sociedade, cultura e cosmos, considerando que o enfoque agroecológico da agricultura familiar exige uma ação social que envolva a conexão entre as multidimensões da sustentabilidade, com controle das forças produtivas e a eliminação da correlação de forças centrada no poder do capitalismo que desconsidera e fragiliza as trajetórias complexas dos saberes experenciados, vivenciados por agricultores e agricultoras familiares no contexto da democracia e da participação, estabelecido em prol do pleno exercício da cidadania dos diferentes povos que viabilizam a segurança e a soberania alimentar da população brasileira.

Esse argumento nos possibilita compreender sobre a proposta da complexidade que pretende religar os conhecimentos dispersos através de temáticas transdisciplinares que, de acordo com Morin, vem se constituindo em uma reflexão profunda sobre o mundo, a terra, a vida, a humanidade, as artes, a história, as diferentes culturas e o próprio conhecimento, numa necessidade urgente de rejuntar sociedade e natureza, homem e cosmos.

A Agroecologia pretende proporcionar um aporte teórico-metodológico que possibilite adequar a inserção do homem ao ambiente natural e para isso há que estabelecer um compromisso de formação de redes comprometidas com “a sustentabilidade da teia da vida”. (CAPRA, 2002)

É essa compreensão da inserção do homem ao ambiente natural ao qual se insere que nos faz repensar a extensão rural de maneira ética e responsável, desenvolvida através de uma prática educacional libertadora, em que os agentes assumem o papel de facilitadores de processos capazes de perceber as conexões para a formação do tecido social formado pela Agricultura Familiar, com ênfase nas dimensões sociais.

Tal prática educacional dá-se através de uma aprendizagem cidadã, para o alcance de uma realidade que possibilite a dignidade da condição humana, com equidade e justiça social, edificada em uma educação pluralista, transgressora, democrática e que garanta às atuais gerações o direito planetário de repensar o mundo de um modo mais ético e responsável, oportunizando assim a existência das gerações que ainda estão por vir.

Por: Baziléa de Nazaré Araujo Rodrigues(Socióloga MS.c. e Doutoranda em Agroecologia, Sociologia e Desenvolvimento Rural Sustentável da Universidad Internacional de Andalucía (UNIA) e Universidad de Córdoba (UCO), Espanha. Extensionista Rural da EMATER PARÁ. bazilear@yahoo.com.br – Belém-Pará, 16 de maio de 2010).

3 comentários:

  1. Bazi, lir o seu texto é maravilhoso, parabens pelo seu trabalho.

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  2. Bazi, parabens pelo seu belo conhecimento sobre Agroecologia.

    abçs
    Emanuel

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  3. Baziléa,
    Muito oportuno o artigo, precisamos levar os conhecimentos da agroecologia ao maior número de pessoas.
    Na enquete promovida no blog 71% dos participante afirmou que tem conhecimento parcial sobre o tema agroecologia, o que me leva a pensar, que ainda, existe um universo, sobretudo de agricultores que precisam conhecer a ciência agroecológica. Mas como promover o debate??? como a palavra nossos colegas...

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