A (IN)SUSTENTABILIDADE (PRE)DOMINANTE
Fala-se e escreve-se muito sobre sustentabilidade no Brasil e no Mundo. Reportagens, crônicas, artigos científicos, entrevistas, teses enfim uma infinidade de informações. Experimente uma rápida busca nos sites de pesquisa da Internet com a palavra chave “sustentabilidade” e veja que já existe um número aproximado de 19.300.000 referências. Isso mesmo 19,3 milhões de páginas tratando do assunto. Será que ainda é por falta de tecnologias ou informação que a Terra padece de tantas mazelas ambientais? Será que a maior parte da sociedade prefere mesmo viver a desordem e o caos ao invés de ter uma vida saudável e digna. Ou será que uma minoria poderosa se apropria vorazmente da maior parte dos recursos disponíveis em detrimento da maioria?
Neste dia Mundial do Meio Ambiente eu preferi - confesso com pesar – comentar sobre a insustentabilidade. Inicialmente da insustentabilidade humana. Da insustentabilidade de crianças violentadas dentro do próprio lar, nas ruas e sem escola. Da insustentabilidade das drogas poluindo a alma e a mente de nossa juventude. Da insustentabilidade da falta de empregos e oportunidade de empreendedorismo para os jovens. Da insustentabilidade da violência corroendo o nosso frágil tecido social. Da insustentabilidade da ignorância de grande parte de nossa sociedade, vítima de um analfabetismo funcional crônico, que afeta tanto ricos quanto pobres. Da insustentabilidade da falta de solidariedade, que impede o altruísmo na busca de soluções compartilhadas. Da insustentabilidade de muitos de nossos partidos políticos, transformados em feudos ou dinastias. Da insustentabilidade da corrupção, que enfraquece nossos governos e subtrai da sociedade a possibilidade de investimento em áreas estratégicas como educação, saúde e segurança. Da insustentabilidade de nossa rede de informações que centralizada, subtrai da sociedade a essência da verdadeira realidade e ao mesmo tempo sua criticidade. Da insustentabilidade da impunidade, que passa a sociedade a sensação de que tudo é possível, desde que se tenha poder. Da insustentabilidade da omissão, dos que teriam por dever de ofício ser formadores de opinião para maior esclarecimento da sociedade.
Pensando na insustentabilidade ambiental a pauta também é preocupante. Começo pela insustentabilidade da Amazônia, a cada ano com menos floresta, rios assoreados e sem matas ciliares, já com extremos de secas e enchentes. Da insustentabilidade da Amazônia com mortes no campo, trabalho escravo e êxodo rural. Da insustentabilidade da Amazônia, com o genocídio de sua população autóctone, vítima indefesa da violência ou do contato com a sociedade “moderna”. Da insustentabilidade da Amazônia dos megaprojetos, que gerando empregos efêmeros, mais desarticulam a economia regional e a sociedade, que promovem verdadeiro desenvolvimento. Da insustentabilidade da Amazônia, com suas metrópoles inchadas pela falta de planejamento urbano, carentes de infra-estrutura de saúde, habitação, esgoto e água tratada. Da insustentabilidade da Amazônia, pela sangria desenfreada de seus recursos minerais com baixo valor agregado, poluição de rejeitos tóxicos e redução de sua biodiversidade. Da insustentabilidade da Amazônia, pela “fagocitose” praticada pelos monocultivos e pastagens sobre a diversificação das pequenas lavouras familiares. Da insustentabilidade da Amazônia, pela insuficiência de pesquisadores e extensionistas para a solução de crescentes desafios na geração de conhecimentos e tecnologias que efetivamente sejam aplicadas no meio rural. Da insustentabilidade da Amazônia pela falta de uma legislação ambiental específica e ausência de políticas públicas integradas e emancipadoras.
Refletindo, questiono como admitir no Brasil, pais tropical de dimensões continentais, problemas de ocupação do espaço geográfico? Como pode sobrar para as comunidades mais carentes a ocupação de encostas ou vales inundáveis? Enquanto populações inteiras de municípios rurais se transferem para as metrópoles, em busca de condições de vida e oportunidades que lhes foram subtraídas em seus locais de origem, governos tentam remediar os problemas com paliativos que nunca satisfazem os anseios da sociedade. Falta nas grandes cidades moradia, hospitais, escolas, segurança, esgoto sanitário, água potável. Sobra lixo a céu aberto, desemprego e proliferação de favelas. Nem parece que estamos falando do Brasil, país em que a carga tributária supera os 33% do PIB.
Nas grandes capitais as poucas obras de urbanização que se presencia são de implantação de condomínios fechados para atender necessidades de privacidade e segurança da elite dominante. Penso que tudo isso é a relação de causa/efeito de uma sociedade em que poucos centralizam renda e poder e muitos socializam os prejuízos econômicos, sociais e ambientais. Uma herança em nossa cultura do tempo das Capitanias Hereditárias. Neste ambiente de com(domínios) e dominação, temo pelo “efeito bumerangue”. Desculpem escrever sobre tanta insustentabilidade neste Dia Mundial do Meio Ambiente.
Escrito por Raimundo Brabo
Texto extraido do Blog Amazônia em Devaneios - http://amazoniaemdevaneios.zip.net/
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