A agricultura familiar no Pará responde por 80% da produção estadual da pimenta-do-reino. Os testes em laboratório e nas mudas da Embrapa conseguiram 100% de controle da praga. A expectativa da pesquisa é que até o final deste ano os testes em campo tenham resultados semelhantes e, enfim, os produtores possam comemorar a descoberta do controle dessa doença que acaba com as plantações de pimenta-do-reino, causando grande prejuízo financeiro.
O Pará é hoje o principal produtor de pimenta-do-reino no Brasil. Responde por 80% da produção nacional. Mas, nas últimas décadas, a produção local agoniza com o problema da fusariose, uma praga que se espalha na raiz da pimenta, causando a podridão da planta.
O fusarium, fungo que se alastra na raiz da pimenta, está presente no solo úmido da Amazônia e ataca vários tipos de culturas, prejudicando a produção. Para se ter uma ideia do prejuízo que esta praga causa, uma plantação de pimenta-do-reino saudável produz até 12 anos seguidos. Atualmente, com o problema da fusariose, a produção paraense só consegue vida útil para as plantas de pimenta-do-reino de no máximo até cinco ou seis anos.
Cultura é força de exportações
A crise econômica mundial que se instalou em 2008 atingiu em cheio as exportações paraenses, inclusive a pimenta-do-reino, que é uma commodity e foi uma dos mais impactados pela recessão financeira. Mas, apesar dos problemas para controlar as pragas na produção local, desde 2010 a pimenta paraense vem conseguindo se recuperar e interessar ao mercado internacional.
O gerente do Centro Internacional de Negócios da Federação das Indústrias do Pará, Raul Tavares, afirma que surpreendentemente o produto vem apresentando desde o ano passado variação de crescimento na pauta de exportação nacional de quase 70% em relação aos anos anteriores. Essa recuperação vem se mantendo nos cinco primeiros meses deste ano.
O Pará é o segundo Estado no ranking que contribui com a balança comercial brasileira. Da sua pauta de exportação, explica Tavares, 80% são produtos minerais. Em seguida vêm os vegetais, como a madeira e a pimenta-do-reino, que lidera a lista dos alimentos exportados pelo Estado.
Em 2008, informa Raul Tavares, foram exportados US$ 87 milhões. Com o impacto da crise, a exportação da pimenta-do-reino caiu em 2009 para R$ 68 milhões. Em 2010, em processo de recuperação, foram exportados pelos produtores paraenses US$ 80 milhões, considerado uma superação pelos especialistas.
A notícia do sucesso da pesquisa da Embrapa para controle da fusariose, acredita Raul Tavares, deve ser recebida com entusiasmo, justificando que o mercado internacional é muito exigente com a qualidade dos produtos negociados.
Ele informa que o mercado comprador dos produtos paraenses está se expandindo inclusive na União Europeia, com a entrada da Albânia e Espanha como importadores de pimenta-do-reino do Pará. Também há interesse nos países que formam o Mercosul.
A tendência, segundo o gerente do CIN, é que, aliada à melhoria do produto com a aplicação de nova tecnologia a partir da pesquisa da Embrapa e o aquecimento do mercado consumidor internacional, aumente cada vez mais a produção local e, consequentemente, a exportação, contribuindo de forma mais eficaz com a balança comercial brasileira.
Tecnologia limpa teve 100% de sucesso. Mandioca é a próxima a ser testada
Tecnologia limpa teve 100% de sucesso. Mandioca é a próxima a ser testada
A engenheira agrônoma da Embrapa Célia Tremacoldi, que também é fitopatologista, conheceu os princípios do Nim em 2005. A partir do ano seguinte, começou a testar o crescimento da fusariose em laboratório e partiu depois para o teste nas mudas de pimenta-do-reino, conseguindo a contenção do crescimento do fungo em 100% das mudas de viveiro.
Célia explica que tanto a pimenta quanto o Nim são originários da Índia e se adaptam ao clima úmido da região amazônica. Por isso, os testes precisaram ser feitos nas placas de laboratório e também no próprio solo para a eficiência ser garantida. O resultado da pesquisa foi lançado neste primeiro semestre.
A partir da obtenção do resultado positivo do controle dos fungos da fusariose, a nova tecnologia, obtida a partir das folhas do Nim - trituradas e misturadas à terra para plantar as mudas de pimenta-do-reino -, passou a ser disseminada nas regiões onde há a maior concentração de produtores da pimenta: Castanhal, Baião, Tomé-Açu e Capitão Poço. A própria pesquisadora se encarrega de repassar o conhecimento aos agricultores familiares.
A colheita do modo tradicional da pimenta-do-reino ainda sem o uso da nova pesquisa se dará de setembro até dezembro. A partir desse período, as novas mudas saudáveis, já plantadas com o bioinseticida para garantir a sanidade da produção, será utilizada pelos pequenos produtores paraenses. O plantio ocorre até o final de fevereiro.
A VEZ DA MANDIOCA
A VEZ DA MANDIOCA
A pesquisadora explica que, apesar de ser uma árvore, o Nim pode ser cultivado de forma baixa, através de poda e em pequenas áreas, a fim de facilitar a colheita. As folhas verdes ou secas são trituradas e incorporadas ao solo que vai receber as mudas de pimenta-do-reino misturadas a água.
Com o sucesso dos testes na pimenta-do-reino, a pesquisadora agora partiu para testar o uso do bioinseciticida no cultivo da mandioca com a perspectiva de que também seja 100% positivo. Ela já começou os testes em laboratório para depois recorrer às mudas de solo. A intenção é contribuir com o cultivo saudável de um dos principais alimentos da mesa do paraense e também aumentar a produção, que vai ajudar os agricultores familiares financeiramente.
Regina Célia enfatiza que é fundamental que os agricultores trabalhem com mudas sadias para prevenir o ataque dos fungos de solo. Ela garante que o uso da tecnologia testada na Embrapa não incluirá mais custos à produção e ainda mais, que não vai acarretar em encargo ambiental. “É uma tecnologia limpa, já testada em mamíferos e que vai ajudar a agricultura familiar com custo quase zero”, afirma a fitopatologista.
Além disso, Célia Tremacoldi ressalta que uma produção saudável, livre de pragas e de inseticidas químicos é fundamental para os agricultores que produzem para exportação. Ela enfatiza que os mercados consumidores internacionais, especialmente Estados Unidos e Europa, são exigentes com a qualidade dos produtos importados, por isso mantêm serviços de vigilância sanitária austeros. (Diário do Pará)
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