Luana Lourenço
Enviada especial*
Enviada especial*
Belém (PA) - Com
34 milhões de habitantes em nove países, a Amazônia tem indicadores sociais
ainda distantes dos Objetivos do Desenvolvimento do Milênio (ODM). A avaliação
considera indicadores de nove países que compartilham a floresta: o Brasil, a
Bolívia, Colômbia, o Equador, Peru, a Venezuela, o Suriname, a Guiana e a
Guiana Francesa e está no relatório A Amazônia e os Objetivos do
Desenvolvimento do Milênio.
A pesquisa foi
organizada pela Articulação Regional Amazônica (ARA) e divulgada durante o
encontro Cenários e Perspectivas da Pan-Amazônia, organizado pelo Fórum
Amazônia Sustentável.
Os Objetivos de
Desenvolvimento do Milênio propõem metas para melhorar indicadores de pobreza,
educação, saúde, desigualdade de gênero, mortalidade infantil e materna e de
meio ambiente. Estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2000,
os ODM têm metas a serem cumpridas até 2015.
Desde a década
de 1990, a Amazônia registrou melhoria na maioria dos indicadores, mas os
avanços não foram significativos e ainda deixam os índices regionais abaixo das
médias nacionais. Dos oito objetivos estabelecidos até 2015, apenas um já foi
alcançado na parte amazônica de todos países analisados no estudo: a eliminação
da desigualdade de escolaridade entre homens e mulheres.
“Faltam poucos
anos para o prazo estabelecido pela ONU para o cumprimento das Metas do Milênio
e ainda há muito trabalho para que sejam cumpridas na Amazônia. Há muita
diferença de resultados entre os países que compõem a Amazônia, assim como
variações internas”, diz o relatório.
Com Produto
Interno Bruto (PIB) de US$ 330 bilhões, a região abriga desigualdades e
desafios que dificultam a superação da pobreza, uma das principais metas da
ONU. De acordo com o estudo, cerca da metade da população que vive na região
amazônica desses países encontra-se abaixo da linha de pobreza, com situação
crítica no Equador e na Bolívia.
“A Amazônia é
sempre a parte mais pobre de cada país porque é uma região que tem padrão de desenvolvimento
baseado ainda na extração de recursos naturais, com grande impacto ambiental
associado. E os modelos de agregação de valor em uma economia mais intensiva
são ainda incipientes. Se desmata e continua pobre, a solução não é desmatar
para gerar riqueza”, avaliou o coordenador nacional da pesquisa, Adalberto
Veríssimo, do Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).
O Brasil é
citado como o único país da região que já cumpriu a meta de reduzir pela metade
a proporção da população que sofre de fome. O país tem, por exemplo, taxa de
desnutrição infantil de 4%, bem abaixo da média dos países latino-americanos
(10%). O Peru e a Bolívia ainda registram taxas altas, com mais de 20% de
crianças desnutridas.
A falta de
saneamento e baixas taxas de emprego formal também estão entre os obstáculos
para a redução da pobreza na Pan-Amazônia, segundo o trabalho. Os índices
de desemprego na região são baixos, mas a informalidade é alta. De acordo com o
levantamento, mais da metade da população amazônica economicamente ativa
trabalham no mercado informal, sem benefícios e direitos sociais.
“Também
persistem problemas sérios como o trabalho infantil e o trabalho forçado”,
aponta o relatório. Só no Brasil, mais de 15 mil pessoas foram resgatadas de trabalho
análogo à escravidão entre 2003 e 2009 em regiões rurais da Amazônia,
segundo dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT) citados no documento.
As taxas de
mortalidade materna e infantil – que permanecem altas em alguns países –, a
grande ocorrência de doenças como a malária e a tuberculose e o aumento da
propagação da aids também rebaixam os indicadores da Pan-Amazônia e distanciam
a região do cumprimento dos ODM relacionados à saúde. De acordo com o
levantamento da ARA, a mortalidade infantil caiu em todos os países amazônicos,
mas não o suficiente para ser reduzida em dois terços até 2015, como previsto
nas metas do milênio, com exceção da Venezuela.
Em relação aos
indicadores de educação, todos os países avaliados conseguiram aumentar a taxa
de matrícula na educação básica, que alcança 90% das crianças em idade escolar.
No entanto, mais de dois terços das crianças que ingressam na escola
estão fora da idade adequada. Na Amazônia brasileira, por exemplo, 26% dos
estudantes da educação básica em 2008 tinham idade superior à recomendada para
a série, segundo dados apresentados na pesquisa.
Além da
distorção idade-série, a evasão escolar também compromete melhores resultados
nos indicadores educacionais da região. “Ainda que o crescimento da taxa de matrícula
seja um avanço importante, os países precisam aumentar esforços e investimentos
para que os estudantes completem o ciclo escolar”, destaca o documento.
Os indicadores
ambientais na região mostram avanços na criação de unidades de conservação e no
reconhecimento de terras indígenas. No entanto, o desmatamento ainda ameaça a
floresta e a biodiversidade. O Brasil é apontado como responsável por 72% do
desmate anual da Amazônia, seguido pela Venezuela (12,5%) e pelo Peru (4,7%).
Os autores reconhecem, no entanto, que a participação brasileira pode estar
superestimada pela falta de dados de outros países. “Nem todos os países
amazônicos têm um sistema de monitoramento anual do desmatamento”, diz o texto.
Até o fim de 2011, a Rede Amazônica de Informação Socioambiental
Georreferenciada (Raisg) deve divulgar mapas mais atualizados da floresta, com
indicadores de desmatamento, exploração de gás e óleo e outras pressões.
*A repórter viajou a convite do
Fórum Amazônia Sustentável//Edição: Graça Adjuto
FONTE: Agência Brasil
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